Orkut & cia - parte II

Como sabem, a revolução da Internet deixou uma sequela: a vertiginosa queda da capacidade escrita - e oral - dos jovens.
Parecia ser um fenômeno mundial, mas o que se nota é que a situação é MUITO mais grave aqui no Brasil.
Enquanto os norte-americanos usam e abusam dos neologismos e formas contratas de algumas palavras há décadas, os brasileiros "desaprenderam" seu idioma.
E não é apenas o "internetês", como alguns pseudo-intelectualóides propagam aos quatro ventos...
As abreviaturas ("vc", "tc", "cmg", "hj") têm raízes mais antigas que a "dupla" MSN/Orkut.
Elas vêm lá dos tempos do IRC (uma espécie de precursor dos atuais chats, mas que ainda é utilizado por muitos usuários).
À época (1996), era muito comum as palavras serem abreviadas, pois pagava-se o uso da conexão à Internet por tempo (quase uma regressão temporal, quando se pagava por cada letra em um telegrama. Daí os costumeiros "pt" e "vg") e, daquela forma, poderia-se "falar" mais (não melhor. Apenas mais...)
Em pleno século XXI, com a banda larga (leia-se 24h/dia de conexão em alta velocidade), não há mais desculpa para abreviações...
Mas é (mais uma) questão cultural. E não implica em perda da inteligibilidade da mensagem (assim como não se perdia com os telegramas).
O que é inadmissível, entretanto, é fazer uso do miguxês e do tiopês, duas variantes irritantes (para não dizer preocupantes) da língua portuguesa falada/escrita no Brasil.
E é justamente aí que está um problema de âmbito exclusivamente brasileiro!
Enquanto os habitantes dos EUA usam formas abreviadas (como "B´lyn" para "Brooklyn" ou "U r" para "you are" - pela semelhança fonética) e/ou neologismos (como "bedgasm", que seria um "orgasmo causado por ter ficado dormindo o dia todo"), os tupiniquins da terra brasilis usam expressões como "VuXxE" (no lugar de 'você'), "Ti DoLu" (em vez de 'te adoro') e por aí vai...
Ou seja, partiu-se de uma abreviatura para algo MAIOR e que dá mais trabalho para ser escrito (e traduzido), pois o miguxês (que é uma referência aos 'miguxos' - amigos) é, na verdade, a colocação de letras "X" em substituição ao "S", "U" no lugar do "O" e a alternância de maiúsculas e minúsculas.
Chama-se, ainda, o miguxês de "fofolês", como sendo uma referência (in)direta à linguagem usada por crianças (que são indiscutivelmente fofas, mas não analfabetas).
Se copiássemos (como tudo o que fazemos) a idéia de usar semelhança fonética ou, ainda, as abreviações "puras", ótimo!
Mas conseguimos deturpar todo um conjunto de regras...
Não contentes com o 'miguxês', "criamos" o famigerado 'tiopês'.
As imagens abaixo demonstram o que há por trás dessa idéia (que é muito ruim, por sinal):



Basicamente é uma escrita baseada em fonemas, mas com a grafia errada ("estol" em vez de "estou" e "tiop" no lugar de "tipo". Esta última deu origem à expressão "tiopês")
Segundo fontes não-fidedignas, quando se escreve muito rápido algumas letras podem ser trocadas entre si de forma imperceptível, mas sem sua descaracterização, conforme já "demonstrado" por algumas pesquisas que dizem que "a oedrm das ltraes não iprmota, dsdee que a pmrireia e a úmltia ejsetam no lguar ctero").
Mas não é isso que o "tiopês" prega.
Há, sim, uma TOTAL descaracterização das palavras, pois a ordem das letras é trocada de forma aleatória e/ou trocada por outras que não fazem parte do vocábulo.
Ou seja, é mais uma forma de acabarem com o idioma.
Imagino o que será dessas pessoas quando (e se) prestarem concurso vestibular...
Ainda mais naquelas IES que exigem apenas uma redação.
Irão usar o MSN/Orkut/Internet como desculpa pela falta de conhecimento?
Lamento dizer, mas não  irá "colar"!
Tem muita gente, abaixo dos 20 anos, que lê (devora, na verdade) livros.
Em contrapartida, tem gente acima dos 25 usando a dupla miguxês/tiopês...
Será que acham que, com isso, tornar-se-ão mais "fofas"?
Mais incompetentes, eu diria!

(Acabei deixando de comentar sobre outro "vício" típico: a escrita dos verbos no infinitivo SEM O "r" final. Como em "vou canta", "eu ia sai hoje" ou "você vai assisti aula?", mas isso é assunto para OUTRO post).

Mesmo correndo o risco de parecer arrogante, pergunto:

- Qual a vantagem de eu ir para um doutorado, nessas horas?

Ah, sim. Além da satisfação pessoal - e acadêmica...
NENHUMA!

Com quem usarei mesóclises, silepses, hiperbibasmos e outras figuras de linguagem?
Com algum "miguxo"?
Improvável...

XxAuDaXxõIxX a ToDuXxX
(Que D´us tenha pena de minh´alma...)

Comments

Anonymous said…
kkkkkk!Óoootimooo!

Adorei!O máximo...

assim como Paulo Máximo!
Marianinha:

Triste, não?
É por essas e outras que estou repensando sobre o doutorado...


Bêjo

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